quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Emagrecer: minha insólita realidade

Hoje foi um dia frustrante. Ontem corri 20min intercalados com caminhadas. Para mim isto significa um grande avanço, afinal nunca imaginei que pudesse correr mais de 10min sem ficar esbaforida.  Entretanto no término do treino senti um imenso desconforto nos pés. Sim, eles incharam.
Passei o dia dolorida. Entre massagens e pés erguidos, decidi ligar para o médico. Fiquei desconcertada, pois o mesmo me informou que isto ocorreu em razão do meu sobre-peso. Fiquei desorientada porque até então meu peso elevado só tinha afetada meu guarda-roupa. Os exames de sangue são perfeitos e a autoestima também. Mas isto me apanhou de surpresa.
Tá certo que não imaginei que poderia sair ilesa da comilança e dos devaneios gastronômicos. Mas pela primeira vez em toda a história eu estou praticando uma atividade física e não é qualquer uma. Quem já iniciou alguma prática desportiva sabe que os exercícios físicos dão fome, mas muita fome mesmo. Porém não sou nenhum escândalo, estou muito longe de comer um boi inteiro e só deixar os chifres. 
É certo que emagrecer é pura matemática. As calorias ingeridas devem ser inferiores ao gasto calórico. Concordo que a matemática não está fechando, que 2+2 não estão sendo igual a 4. Todavia convém ressaltar que minha maior preocupação neste momento não era movimentar o ponteiro da balança, e sim ganhar força muscular e resistência para correr.
Contudo quando já estava novamente conformada, eis que o telefone toca. Quem era? Meu personal querendo saber como estou. Conversa vem, conversa vai, a boca de gamela aqui contou que todo o episódio era em decorrência do meu peso. Para quê eu fui falar? Imediatamente ele começou a palestrar sobre minha alimentação e da importância de perder peso. E pasme: sugeriu que eu estaria comendo escondido.
Naquele exato momento veio à lembrança os programas bizarros da televisão norte americana, onde obesos notívagos assaltam a geladeira e comem toneladas de alimentos de uma única vez. Já vi inclusive um episódio em que uma moça desesperada mordeu um tablete de manteiga e o comeu inteiro.
Voltando ao personal – não satisfeito com a infeliz insinuação considerou por bem compartilhar com meu marido as suas incomuns desconfianças.
Daí em diante meu dia foi peculiar. Para onde eu ia, ele, meu honorável esposo, ia atrás. Fez vigia na porta da cozinha, vistoriou armários e posso jurar que o vi vasculhando gavetas. Empenhou todos os esforços atrás do tesouro escondido. Fico pensando se ele imaginou que em algum momento encontraria uma arca repleta de chocolates, bombons, balas, bolos e doce de leite.
Verdade seja dita, posso até ter compulsão alimentar, contudo eu não sou tão óbvia. Não perderia meu tempo escondendo e muito menos ficaria me fartando de doçuras. Meu alimento preferido é singelo, falsamente nutricional, democrático, praticamente santificado: o pão nosso de cada dia. Quanto a ele não tenho preconceitos e nem pudores. Todos são bem vindos, desde o pãozinho da esquina até ao delicioso pão de massa azeda sourdough. Tanto faz a composição, farinha utilizada ou acompanhamento. Ele por si só é arrebatador na sua simplicidade.
Magnífico e traiçoeiro. Repleto de farinha é altamente energético. Sua energia travestida de alimento indispensável está presente em todos os lares. O inimigo oculto fica ali, escondido no saco de papel, inofensivo até que a primeira mordida seja deflagrada e então, neste momento expande seus tentáculos sobre todos os sentidos. As papilas ficam alerta, as narinas extasiadas, há uma grande descarga de endorfina, um turbilhão de sentimentos aflora e a alma flutua regozijada pelo sabor. (continua....)